
Queridos Gilberto Braga e Ricardo Linhares,
É de conhecimento popular o fato da Globo ser um instrumento de comunicação destinado a parte burguesa e nobre do país, a própria emissora jamais tratou de esconder isso, e com o passar dos anos, observamos que essa característica somente foi condensada. Em outros tempos, isso poderia ser ilustrado como problema para a população brasileira, entretanto veio a globalização e tratou de disseminar essa ideia de que não há mais de uma opção.
Observando isso, foi de uma esperteza e inteligência enormes abusar do momento em que Norma, interpretada por uma das mais belas atrizes que dispomos, Glória Pires, estava na pobreza e desgraça, pois, de certa forma, o povo brasileiro conseguiu se ver naquela personagem. Aliás, essa foi uma situação rara na Globo e, para constatar isso, basta analisar os números do Ibope dos últimos anos. O fato de ter sido passada para trás por um “esperto” chamou a atenção do público que, de forma geral, comprou a briga.
É evidente que a dramaturgia não deixou de existir, e isso foi bom, pois o povo não quer só a realidade nas novelas. Se formos ver a relação entre as pessoas que saem da cadeia, vivem um romance e herdam uma fortuna, não poderíamos representar isto aqui em porcentagem de tão insignificante que seria o número.
O que faz “Insensato Coração” ser sucesso é a vingança, o desejo de ver o outro comendo um prato frio e rebuscado. Foi notório que, somente no momento em que a miséria foi abordada, o folhetim saiu da sua própria miséria e conseguiu sorrir nos números do Ibope. Uma observação importante.
Ainda assim, gostaria de agradecer a vocês por mesclar a fantasia com o mundo real, a vingança com o auto-reconhecimento e, mais do que tudo isso, por fazer das nossas noites menos insensatas. Conseguiram misturar o fantoche com seu próprio criador, sem perder de vista o padrão da Globo, caracterizada com extrema perfeição por alguns estudantes como “mídia corporativista burguesa”.
Atenciosamente,
Breno Cunha
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